terça-feira, 20 de abril de 2010

Valorização do Idoso em Fornos de Algodres


Localizando-se Fornos de Algodres no Interior do País e perante a contínua desertificação desta região de Portugal, a população idosa cresce em termos numéricos quer a nível absoluto quer a nível percentual, uma vez que o número de crianças que nascem por esta zona é extremamente reduzido.

Olhando à primeira vista, temos aqui uma séria ameaça ao desenvolvimento de toda esta região. Mas onde há uma ameaça há sempre uma oportunidade.

Deparando-nos com esta realidade há duas possibilidades de atitudes a ser tomadas:
1 - Sim é verdade, somos cada vez menos e mais velhos e portanto não há nada a fazer, pelo que é esperar que o tempo resolva os problemas.
2- Sim é verdade, somos cada vez menos e mais velhos e portanto há que dar qualidade de vida aos mais velhos e criar incentivos para o nascimento de mais crianças neste concelho.

Eu revejo-me na segunda atitude a ser tomada. Na minha condição de ser humano sempre tive a sensação que ser idoso neste País (porque apenas conheço este) é extremamente difícil. Na minha condição de Farmacêutico e perante um contacto tão próximo com esta população constatei que provavelmente menosprezei o quão difícil é ser-se idoso, sobretudo nos concelhos do Interior do País. A realidade com que me deparei neste concelho é a de que há um enorme défice de relações interpessoais na população idosa deste concelho devido a factores como por exemplo: dificuldades de transporte, despovoamento das aldeias, analfabetismo (que drama no nosso concelho!) entre outros. Tudo isto conduz à palavra mais temida por todo o ser humano - a Solidão!

Para lutar contra a solidão há que eliminar a maioria das variáveis que levam a que esta situação seja tão presente. Que oportunidade temos nós jovens de ajudar estas pessoas e nos valorizar enquanto profissionais em qualquer área em que estejamos inseridos e sobretudo de nos valorizarmos enquanto seres humanos!

Terei hoje de relevar um programa que tem vindo a ser desenvolvido no nosso concelho intitulado "Programa FornosVida" a cargo da Câmara Municipal de Fornos de Algodres. Este programa conseguiu angariar o fantástico número de 300 pessoas e colocar essas pessoas a interagir socialmente e a praticar exercício físico semanalmente. O sucesso deste programa tem também o rosto da competência de um amigo meu, o Professor Ricardo Fernandes.

Há duas semanas atrás tivemos a possibilidade de realizar em conjunto, obviamente com o apoio da Farmácia Central e da Câmara Municipal uma acção semanal intitulada a Semana da Saúde. Os resultados foram fantásticos, tendo sido realizados mais de 300 testes de colesterol, diabetes, tensão arterial e tendo sido efectuada a troca da maioria dos aparelhos obsoletos utilizados para realizar de medições de glicémia (açucar) sem quaisquer custos para as pessoas inseridas neste projecto. São acções deste tipo, projectos como o "Programa FornosVida" que valorizam o concelho, uma vez que criam valor para as pessoas e o concelho vive de PESSOAS.

Julgo que a autarquia deveria olhar para o exemplo do Professor Ricardo Fernandes e perceber o quão importante é não "desperdiçar" jovens qualificados em trabalhos em que existe claramente duplicação de tarefas e deslocá-los para áreas novas, onde possam deixar a sua marca, mostrando assim toda a sua competência e capacidade.

Aproveito assim para deixar uma ideia que poderia perfeitamente encaixar no "Programa FornosVida". A mim preocupa-me bastante a taxa de analfabetização no nosso concelho e noto pelo contacto que tenho com as pessoas que há inúmeros idosos neste concelho que estão ávidos aprender a ler e escrever, ou no limite, saber assinar o seu nome.

Não terá a Câmara Municipal no seu quadro de pessoal alguma pessoa com qualificações para realizar esse sonho a alguns dos nossos jovens idosos do concelho?

Os idosos precisam de nós jovens, exactamente da mesma maneira que nós precisamos deles porque a verdade é que sem eles e o seu saber a nossa vida teria obviamente um rumo, mas certamente não seria a mesma coisa.

Alexandre Lote