quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Uma simples crise de valores...

Acabo de ler um artigo do Professor da ISCTE, António Gomes Mota.

Um artigo coerente sobre os gestores públicos e o perigo que cortes “cegos” nas empresas públicas podem gerar. Diz e muito bem, que os cortes em empresas que conseguem com sucesso concorrer com o sector privado podem despoletar uma transferência silenciosa de riqueza do sector público para o sector privado. Torna-se importante portanto que sejam estabelecidos critérios objectivos nos “cortes” a efectuar, de modo a não colocar em causa a competitividade destas empresas.

Até aqui completamente de acordo.

O ponto de discórdia surge quando o mesmo refere “ E como se não bastasse, está agora também no horizonte mais uma medida, apenas e só populista, o de limitar ao ordenado do Presidente da República os vencimentos máximos que podem ser auferidos pelos gestores públicos”.

A minha opinião é a de que esta não seria uma medida populista, mas sim justa e adequada aos tempos de crise financeira que vivemos actualmente.

Refere ainda o Professor António Gomes Mota “ninguém em seu juízo absoluto, a menos que em desespero, inebriado por estatuto e aparente poder, ou imaginando já a captação de vantagens paralelas, aceitará estas condições financeiras e de gestão”. É este o pensamento que reflecte a maior crise existente na sociedade portuguesa. Mais do que a que crise financeira que paira sobre nós, existe uma crise de valores enraizada na sociedade com base na ganância e no egocentrismo de alguns portugueses, que julgando-se autênticos génios da gestão, julgam ter o direito de auferir vencimentos faraónicos, completamente desajustados da realidade do país.

Repare-se como o senhor professor refere sem qualquer pudor que só um louco aceitará receber 7000€/mês para ser gestor público, sem que mais nenhuma contrapartida lhe seja dada em troca. Ora isto é um desrespeito por todos aqueles que recebem o salário mínimo, os desempregados, e todos os licenciados deste país que recebem em média 1000€/mês.

Na minha modesta opinião, sou farmacêutico, não sou economista, associado ao exercício de qualquer cargo público deve estar sempre a consciência de que estamos a trabalhar para a sociedade. Esse preço é algo que os privados jamais poderão pagar, pelo que quero acreditar que existirão jovens neste país com talento e capacidade para colocar os interesses do país acima dos seus interesses pessoais e tenham a coragem (ironia) para que, pelo menos durante uma parte da sua vida cometam a loucura, de aceitar exercer de forma capaz um cargo na gestão pública ganhando somente 7000€/mês.

Um pouco de decência e menos ganância poderia de facto fazer deste país um lugar diferente para melhor.

Cumprimentos,

Alexandre Lote